Durante a Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra, na Suíça, o empresário Gedeão Silveira Pereira, segundo vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) negou a existência de trabalho escravo no sul do país e afirmou que o Bolsa Família “atrapalha a nossa relação [entre empregadores empregados], porque nos falta já mão de obra no Brasil”.
A CONTAR se posiciona contrariamente às afirmações, pois acompanha diariamente denúncias de trabalho análogo ao escravo em diversos estados brasileiros, incluindo o Rio Grande do Sul, além de aocmpanhar o Cadastro de Empregadores que submeteram trabalhadores a condições análogas à escravidão feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego, a “Lista Suja”. Em sua última edição, o cadastro aponta 30 empresas do estado, sendo pelo menos 16 delas do setor agropecuário.
A CONTAR também se apoia no excelente trabalho de investigação e apuração feito pela organização Repórter Brasil, que apenas em 2024 já expôs pelo menos quatro casos de trabalho análogo ao escravo apenas no estado do Rio Grande do Sul. Fatos e denúncias sobre a existência de trabalho escravo no Brasil são, infelizmente, abundantes, e muitos outros devem existir silenciados pelo medo, pelas distâncias, pela impunidade, pela burocracia, pela falta de fiscais do trabalho em quantidade suficiente para investigar todos os casos.
A CONTAR também repudia a afirmação feita pelo segundo vice-presidente da CNA de que o Bolsa Família atrapalharia a contratação de mão de obra. De acordo com o Dieese, a média salarial no campo em 2024 é de 1,15 salário mínimo, o que significa que, se em algumas regiões as empresas pagam pouco mais que o mínimo, em outras, paga-se muito abaixo dele. Muitas vezes, o trabalho é precarizado e terceirizado, deixando os(as) trabalhadores(as) em ainda maior situação de vulnerabilidade. O Bolsa Família é, muitas vezes, um necessário complemento a um salário insuficiente pago pelas empresas.
A CONTAR luta por salários dignos, condições decentes de trabalho de acordo com a legislação trabalhista, pelo cumprimento dos direitos humanos, pelo aumento no número de fiscais do trabalho e pela punição das empresas que descumprem as leis brasileiras e os tratados internacionais assinados pelo Brasil. Acreditamos na dignidade do trabalho assalariado no campo, fundamental para a produção de alimentos e de grande parte da riqueza do Brasil.