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CONTAR realiza Oficina sobre Trabalho Rural na Cadeia Produtiva da Cana-de-Açúcar no Piauí

Nos dias 3 e 4 de dezembro de 2025, a CONTAR, em parceria com a Repórter Brasil e o SETAR-PI, realizou em Teresina a Oficina sobre o Trabalho Rural na Cadeia Produtiva da Cana-de-Açúcar, reunindo trabalhadores e trabalhadoras assalariados rurais da cana, lideranças sindicais, pesquisadoras e auditoras fiscais para debater os desafios históricos e atuais enfrentados pela categoria.

O encontro integrou as ações do Projeto “Promoção do Trabalho Decente no Estado do Piauí”, financiado pelo Fundo para Democracia no Trabalho, por meio da Fundação Avina, e reforçou a importância do diálogo social e da qualificação da ação sindical frente às transformações na agricultura e no mercado de trabalho rural.

Abertura e primeiros debates

A mesa de abertura contou com a presença de Maria Samara (CONTAR), Anfrísio Moura (SETAR-PI) e José Evandro de Araújo, vice-presidente da FETAG-PI, que relembrou que a luta pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados rurais “não é recente, mas resultado de muitos anos de resistência e organização sindical”. Em seguida, Darliane Soares apresentou a programação da oficina e destacou os objetivos do projeto de promoção do trabalho decente no estado.

A auditora fiscal do trabalho Maria do Socorro Azevedo abriu as reflexões com um panorama sobre a Agenda do Trabalho Decente no Brasil e no Piauí, apresentando dados sobre informalidade, desigualdade de gênero e raça, acidentes de trabalho e desafios estruturais que ainda limitam a garantia de condições dignas para os trabalhadores rurais.

Na parte da tarde, a Auditora Fiscal do Trabalho e representante do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, Dra. Paula Mazullo, abordou avanços e entraves nas negociações coletivas do setor sucroenergético. Ela destacou a relevância da atuação sindical para assegurar direitos, melhorar condições de trabalho e fortalecer um diálogo qualificado com as empresas da região.

Encerrando o primeiro dia, a advogada e pesquisadora Dra. Alice Resadori apresentou um estudo atualizado sobre o assalariamento rural no Piauí, trazendo evidências sobre:

  • baixos salários e alta informalidade no campo;
  • aumento da mecanização e redução de postos de trabalho;
  • riscos e precariedade nas atividades da cana;
  • persistência do trabalho infantil e vulnerabilidades entre jovens rurais.

Segundo dia: pesquisa histórica, juventude e desafios contemporâneos

A programação da manhã do segundo dia teve início com a apresentação da mestranda Rebeca Passos (PPGSC–UESPI), que compartilhou resultados de sua pesquisa sobre a implantação da Companhia Agroindustrial Vale do Parnaíba (COMVAP) no Piauí. Rebeca demonstrou como a produção de cana-de-açúcar no estado está entrelaçada a uma longa história de exploração da mão de obra — desde o período colonial escravista até práticas contemporâneas de precarização e situações análogas à escravidão.

A pesquisadora trouxe relatos que evidenciam a persistência de coerções e violências estruturais no corte da cana, impactando profundamente as comunidades rurais e reforçando desigualdades históricas no campo piauiense.

Em seguida, a socióloga Ms. Theresa Rachel Mendes apresentou o estudo “Eu Sou Jovem Rural e Comvapeiro”, que analisa a identidade de jovens trabalhadores da COMVAP. A pesquisa mostra que, mesmo diante das exigências do trabalho assalariado rural e do trânsito entre o rural e o urbano, os jovens mantêm vínculos fortes com suas origens. Theresa destacou fenômenos centrais que marcam a experiência desses trabalhadores:

  • jornadas exaustivas e metas elevadas;
  • impactos do calor extremo, mecanização e terceirização;
  • abandono escolar para complementar a renda familiar;
  • fortalecimento de uma identidade coletiva marcada pelo orgulho de “ser comvapeiro”.

As apresentações aprofundaram o entendimento sobre o universo do trabalho no setor canavieiro e reforçaram a urgência de políticas públicas, fiscalização e fortalecimento da ação sindical para proteção da juventude rural.

Na sequência, Dra. Alice Resadori retornou para abordar os impactos dos agrotóxicos na saúde dos trabalhadores, destacando episódios de intoxicação, riscos relacionados à pulverização e fragilidades na proteção efetiva aos trabalhadores do setor.

Encerramento: organização sindical e agenda propositiva

No período da tarde, Anfrísio Moura e Maria Samara conduziram um diálogo sobre organização sindical, promoção do trabalho decente e estratégias de fortalecimento da categoria. O debate evidenciou a necessidade de:

  • ampliar a presença sindical nos canaviais;
  • qualificar negociações coletivas;
  • fortalecer processos de formação política;
  • intensificar ações de fiscalização e defesa de direitos.

A oficina foi encerrada reafirmando o compromisso da CONTAR e do SETAR-PI com a promoção do trabalho decente, a valorização da juventude rural e a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras assalariados da cana-de-açúcar no Piauí.

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