Outubro Rosa e o direito à saúde das trabalhadoras assalariadas rurais
O Outubro Rosa 2024 traz à tona não só a importância da prevenção do câncer de mama, mas também a discussão sobre o direito à saúde das trabalhadoras assalariadas rurais no Brasil. Com um papel fundamental na produção agrícola do país, essas mulheres enfrentam desafios únicos no acesso à saúde, especialmente nas regiões do interior, onde a infraestrutura de saúde é limitada e os recursos são escassos.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 15% da população brasileira vive em áreas rurais, com grande parte composta por mulheres que dependem do trabalho na agricultura para sua subsistência. Para essas trabalhadoras, o acesso a exames preventivos, como a mamografia, e a consultas médicas é significativamente mais difícil do que para as mulheres em áreas urbanas. O Sistema Único de Saúde (SUS), embora universal e gratuito, enfrenta desafios logísticos em cobrir regiões mais remotas, onde a distância entre os centros de saúde e as comunidades rurais pode ser um dos maiores obstáculos.
Estudos mostram que, no Brasil, as taxas de cobertura de mamografias estão longe de atingir as metas estipuladas. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2022, apenas cerca de 24% das mulheres na faixa etária preconizada (50 a 69 anos) realizaram mamografias preventivas nas regiões Norte e Nordeste, enquanto as regiões Sul e Sudeste tiveram melhores índices, com aproximadamente 60% de cobertura. Esses números refletem a desigualdade de acesso ao diagnóstico precoce do câncer de mama, com as mulheres rurais sendo especialmente prejudicadas.
Além da barreira geográfica, há também questões socioeconômicas e culturais que impactam o acesso dessas trabalhadoras ao sistema de saúde. Muitas vezes, as condições de trabalho precárias, a falta de informação e a dificuldade em conciliar as demandas de trabalho e família com a busca por atendimento médico resultam em diagnósticos tardios. Estima-se que o câncer de mama, quando detectado precocemente, tem até 95% de chances de cura, mas, para muitas mulheres do campo, esse diagnóstico pode ser feito em estágios avançados da doença, comprometendo as chances de sucesso no tratamento.
Em relação ao tratamento, o cenário não é diferente. A escassez de hospitais equipados com recursos oncológicos nas cidades pequenas obriga muitas mulheres a se deslocarem longas distâncias para receberem atendimento especializado. De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, apenas 14% dos municípios brasileiros têm condições adequadas para oferecer tratamento completo de câncer de mama pelo SUS, incluindo cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Portanto, o Outubro Rosa 2024 é uma oportunidade não apenas para conscientizar sobre a prevenção do câncer de mama, mas também para reforçar a luta pelo direito à saúde das trabalhadoras rurais. Políticas públicas específicas para essas mulheres, incluindo a ampliação de programas de rastreamento em áreas remotas e a criação de unidades móveis de saúde, são essenciais para garantir que todas as brasileiras, independentemente de onde vivem ou trabalham, tenham acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento adequados.