A escala 6×1 representa uma das facetas mais cruéis do trabalho moderno, impondo uma rotina extenuante e alienante aos(às) trabalhadores(as), especialmente aos(às) assalariados(as) rurais. Ao exigir seis dias de trabalho com apenas um de descanso, essa rotina revela-se desumana e insustentável, ignorando as necessidades mais básicas de quem dedica sua força e seu tempo para mover a produção do país.
A luta contra a escala 6×1 não é apenas uma questão de horário de trabalho; é uma luta pela dignidade. A jornada de seis dias consecutivos impõe um ritmo que compromete o descanso físico e psicológico, deteriorando a saúde e a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as). Sem tempo para recuperar o corpo e a mente, os(as) trabalhadores(as) são condenados a um ciclo de fadiga, onde o dia de descanso não basta para compensar o desgaste da semana. O impacto disso é evidente: crescem os índices de adoecimento, acidentes de trabalho e até casos de esgotamento físico e mental.
Para os(as) assalariados(as) rurais, a escala 6×1 tem um impacto ainda mais devastador. Na maioria dos casos, esses(as) trabalhadores(as) moram longe dos centros urbanos, enfrentam condições de trabalho duras e jornadas extensas sob o sol escaldante ou em condições climáticas adversas. Muitos não conseguem ver suas famílias durante a semana, e aquele único dia de descanso se torna insuficiente para compensar o distanciamento e a falta de convivência com filhos, cônjuges, parentes e amigos. Este cenário é um atentado à vida social e familiar dos(as) trabalhadores(as), que se veem forçados a abdicar do convívio social e familiar, algo essencial para o bem-estar e a saúde mental.
Para o presidente da CONTAR, Gabriel Bezerra, é importante destacar que a luta pela diminuição da carga de trabalho de 44 para 40 horas é histórica entre os assalariados, especialmente porque têm condições de trabalhos únicas, como a necessidade de percorrer grandes distâncias para o trabalho, muitas vezes em meios de transporte precários, e também por trabalhar sob o sol e outras condições climáticas adversas. “Tudo isso afeta a saúde física e mental dos assalariados e assalariadas rurais, então somos favoráveis a essa demanda, que é já é colocada em prática em outros países, o que mostra que é possível. É necessário, então, vontade política para a construção desse entendimento”, afirma o dirigente.
O fim da escala 6×1 é questão de justiça social
Além disso, a escala 6×1 é um obstáculo para o desenvolvimento pessoal e profissional dos(as) trabalhadores(as). Como dedicar-se a cursos, estudos ou treinamentos que permitam uma ascensão profissional, quando se tem um único dia de descanso? Sem tempo para investir em sua formação, os(as) trabalhadores(as) ficam aprisionados em funções de baixa qualificação e remuneração. A sociedade perde quando o(a) trabalhador(a) é privado da possibilidade de crescer, melhorar, estudar. É a continuidade de um sistema que explora, concentra a renda nas mãos de poucos e perpetua as desigualdades.
O que está em jogo aqui é uma questão de justiça social. Os salários, sobretudo os dos(as) assalariados(as) rurais, precisam ser elevados para refletir a importância desse trabalho para o desenvolvimento do país. Trabalhadores(as) bem remunerados e que desfrutam de condições justas de trabalho são mais produtivos e têm uma qualidade de vida que impacta positivamente a economia. Melhorar as condições de trabalho e ampliar os dias de descanso é uma forma de redistribuir renda e garantir uma vida mais digna para quem sustenta o país com o próprio suor.
É hora de abolir a escala 6×1 e implementar condições que respeitem o trabalhador e sua necessidade de descanso, convívio familiar e social, e de tempo para investir em sua própria educação. A luta contra essa escala é um movimento essencial para diminuir as desigualdades e promover uma sociedade mais justa e produtiva.
Vida Além do Trabalho
A discussão sobre o fim da escala 6×1 tem ganhado força no Brasil, especialmente após uma campanha organizada pelo movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e pela deputada Erika Hilton (PSOL), que já arrecadou mais de 1,1 milhão de assinaturas em uma petição pública. O movimento e Hilton propuseram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa eliminar essa escala e reduzir a jornada de trabalho semanal sem redução salarial. A PEC já passou por rodadas de reuniões no Congresso Nacional e com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para fortalecer o apoio e iniciar a tramitação legislativa.
Além disso, há outros projetos em discussão, como o PL 1.105/2023, do senador Weverton Rocha (PDT-MA), que propõe alternativas para flexibilizar as jornadas, incentivando escalas mais equilibradas como 5×2 ou 4×3, através de acordos coletivos. A justificativa para estas mudanças é melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e alinhar o país com práticas internacionais que demonstraram impacto positivo na saúde e produtividade dos empregados.
Essas iniciativas refletem uma crescente mobilização por condições de trabalho que permitam um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional, buscando maior justiça social e avanços na legislação trabalhista brasileira.